A Peste Negra e seus médicos

A Peste Negra ainda vive no imaginário popular. A epidemia mais letal do mundo deixou até 200 milhões de mortos segundo algumas estimativas, quase um terço da população europeia da época e quase dez vez mais do que a COVID-19 (até fevereiro de 2021). Dentre os seus legados culturais, podemos citar como o mais conhecido os famosos médicos com “chapéu de pássaro”. Mas primeiro, um pouco mais sobre a famosa Peste. 

A peste é causada pela bactéria Yersinia pestis. Este organismo existe ainda hoje em animais selvagens, causando inclusive infecções e mortes ocasionais em pessoas que entram em contato com eles. Até mesmo no Estadoa Unidos pessoas morrem anualmente pela doença. Porém, a invenção dos antibióticos e a melhoria das condições de higiene causou uma dramática redução nos casos de peste humana, e nenhuma epidemia se expandiu neste século de forma global como na antiguidade. 

Acredita-se que a Peste Negra que dizimou a Europa entre 1346 e 1353 tenha surgido na Ásia Central ou no Oriente. Ratos trazidos do leste teriam trazido a bactéria para a Europa, e pulgas teriam a transmitido para os humanos. Mas sua primeira aparição confirmada se deu na Crimeia, atual território russo, em 1347. Segunda uma história antiga, os mongóis teriam atirado com catapultas cadáveres contaminados pela peste sobre as muralhas de Kaffa, infectando seus habitantes. Os mercadores da cidade fugiram, levando a doença por navio para o resto do continente. A doença chegou em Constantinopla, matando o imperador bizantino, e depois avançou para a Sicília (sul da Itália), migrando em seguida para o norte da Itália, para a França, Espanha, Alemanha, Inglaterra e chegando à Rússia e Noruega. 

As pessoas infectadas pela peste podiam exibir três tipos de doença. A febre e a dor generalizada eram comum aos três. O tipo mais comum era a peste bubônica, e o principal sintoma era o surgimento dos “bubões”, gânglios inchados que apareciam pelo corpo e vazavam pus. Depois as mãos e o nariz escureciam e apodreciam, e a pessoa vomitava sangue, morrendo em 80% das vezes. O outro tipo era a peste pneumônica, que se espalhava pelo ar de pessoa para pessoa e consumia o pulmão, causando tosses com sangue e morte em 90% dos casos. Por fim, a peste septicêmica, uma forma tão rápida que não deixava sequer tempo para que os bubões se formassem, causando morte em praticamente 100% dos casos. 

Mas, enfim, por que os médicos da peste usavam as roupas que associamos à época medieval até hoje? Na verdade, essa roupa e sua máscara peculiar só foram inventadas no século  XVII, quase 300 anos depois do fim da Peste Negra. Foi usada, porém, em algumas epidemias menores da mesma doença. O “bico” da máscara não era um adereço estético apenas: ele armazenava ervas aromáticas que serviam para “proteger” o médico do ar contaminado. Pois naquela época se acreditava que o próprio ar poderia estar contaminado e transmitir doenças. A capa encerada também tinha esse mesmo objetivo. E a bengala, além de ajudar na locomoção, servia para direcionar os doentes sem que o médico precisasse tocá-los. Tudo isso não serviu de muito, e os médicos morreram tanto quando os pacientes. Suas roupas se mantiveram na memória humana, e ainda hoje servem de fantasias e símbolos para a morte e a doença. 

One Reply to “A Peste Negra e seus médicos”

  1. Muito interessante o blog e as informações!

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